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Os macacos, a pintura e uma casa de histórias

Já lá vão uns bons anos quando descobri Paula Rego. Tinha 14 anos e estava a percorrer colecções de pintores numa estante da biblioteca de Torres Vedras. Há uma colecção que se destaca e que me deixa petrificado. Hoje consigo visualizar a capa e a textura desse livro tão bem como se nele tivesse tocado há instantes. Adiei a visualização de um filme qualquer para me entregar a esta arte e desvendar um universo de contos tão profundos e inquietantes.

Ao longo dos anos fui me interessando pelos trabalhos de Paula Rego, principalmente aqueles que eram leiloados em quantias menos modestas. Olhava para eles e tentava desvendar que sensações haveriam provocado no coleccionador. Agora já desisti de o fazer, eles falam para nós, só no nosso tecido multi-cultural é que os podemos interpretar.

O reencontro com a obra de Paula de Rego de uma forma mais sólida ocorreu há umas semanas durante a tão esperada visita à sua Casa de Histórias em Cascais. O espaço e o alinhamento e disposição dos seus quadros foi extremamente bem conseguido. Pude ainda descobrir algumas fases da sua obra que desconhecia. Aconselho todos os que amam a arte livre a darem lá um saltinho.

Os quadros de Paula Rego revelam um grande poder de sentir. Não basta capturar o real. Eles transcendem-no. Tornam viva essa outra dimensão. A ilusão. A nudez. A crudelidade. A sedução. A denúncia. A inquietação. Percorrer uma pintura de Paula Rego significa ir mais além, sem medos de corromper o explicável. É uma resposta à indiferença do sentir.

Paula Rego 4701

(18/20)

Bússola Política

Há um descontentamento geral quando se evoca a palavra política.
Em Portugal os ideais e convicções que determinam as cores partidária parecem ser desconhecidos, esquecidos e até ignorados por grande parte da nossa sociedade. É do nosso dever de intervenção, enquanto cidadãos, de que vos quero falar. Já todos sabemos que o interesse pessoal ou partidário que desvia fundos, desvirtua medidas, corrompe valores ou apela à demagogia e à falta de transparência é, infelizmente, um problema estrutural da grande maioria dos políticos em Portugal. Mas esta incompatibilidade que parece existir entre o interesse e o dever político já é bem conhecido de todos nós. Quero, pelo contrário, tentar perceber convosco qual é a nossa responsabilidade política no estado actual do país.

Cada programa eleitoral, fundado em ideais políticos, deveria merecer por cada um de nós uma análise crítica que resultasse numa lista de pontos positivos e divergências. No entanto, curiosamente, cada cidadão português parece querer reunir todos os pontos positivos num só partido ou, alternativamente, não reconhecer nada de positivo em nenhum lado. Destacar as medidas positivas apresentadas por um outro partido ou a crítica justificada, transparente e que apresenta alternativas são o caminho, sejamos políticos ou cidadãos. No entanto, há uma relutância em reconhecer o que o outro faz bem ou onde eu posso estar a errar. Parece existir uma imposição genética, educativa ou, porventura, social que nos impede de agir como tal, moldando os nossos argumentos e a nossa consciência. Por vezes, menos gravemente, este apoio cego resulta de um foco numa política que está directamente ligada à nossa vida. Outras vezes, da incapacidade de separar a aparência e o sofisma do conteúdo.

O exercício de tentar compreender a fundo, de forma isenta de convenções, as diferentes alternativas existentes é um dever de cada um de nós num país democrático. No final do exercício, a falta de alternativa poderá conduzir à desilusão. No entanto, parece-me que, a existir alternativa, a alternativa menos má é preferível ao voto em branco. Este problema, o problema da alternativa, é para as mentes livres o maior problema em Portugal. E resulta não só do problema estrutural da incompetência e dos interesses políticos, que prometi tentar não evocar, mas também da não-separação das políticas sociais e económicas nos partidos portugueses. Os partidos economicamente mais liberais acabam por ser socialmente autoritários. E os partidos menos conservadores em políticas sociais acabam por defender um Estado pesado, que corre o risco de limitar a iniciativa privada e de se tornar controlador, inflexível e despesista. Qual deverá ser a verdadeira função do Estado?

Para que cada cidadão possa exercer o seu dever de voto de forma consciente é importante que reflicta profundamente sobre esta questão, metendo de lado os seus genes e todas as certezas mal fundamentadas. Só depois deverá avançar em direcção aos programas eleitorais, devido à sua crescente volatilidade.
Sem me estender demasiado, deixo-vos com um pequeno desafio: a bússola política. De forma, mais ou menos objectiva, ela traçará o vosso perfil político. Lembrem-se que o centro da bússola não corresponde ao centro da política em Portugal e que os resultados não são absolutos, isto é, podem se moldar ao longo da tua vida. Desafio aceite? O teste é bastante interessante, podem cortar perguntas e colar nos vossos comentários para alargar o debate!

>> Aceito o desafio do Rui! <<

Todos nós temos um dever cívico para com a nossa sociedade. De forma mais ou menos radical, ora levantando questões, ora apoiando causas, devemos intervir activamente na vida política do nosso país e do mundo. Creio que, neste momento, o melhor contributo é suscitar o debate interior e com os outros para que dia 27 possamos votar em consciência.
Abraços

Mãos na Parede

Reflectir | Verticalmente confrontados com o nosso corpo e pensamento.
Interpretar > Questionar. Destruir. Compreender. Desenhar.

Agir | Posicionados para marcar e quebrar barreiras sociais, físicas e espirituais.
Aprender > Tornar concreto. Aplicar. Vestir. Adaptar. Progredir.

maoparede

A partir de Setembro este será um espaço para a recriação.
Sintam-se em casa, amigos,
e dispam-se antes de entrarem,

Rui