Os macacos, a pintura e uma casa de histórias

Já lá vão uns bons anos quando descobri Paula Rego. Tinha 14 anos e estava a percorrer colecções de pintores numa estante da biblioteca de Torres Vedras. Há uma colecção que se destaca e que me deixa petrificado. Hoje consigo visualizar a capa e a textura desse livro tão bem como se nele tivesse tocado há instantes. Adiei a visualização de um filme qualquer para me entregar a esta arte e desvendar um universo de contos tão profundos e inquietantes.

Ao longo dos anos fui me interessando pelos trabalhos de Paula Rego, principalmente aqueles que eram leiloados em quantias menos modestas. Olhava para eles e tentava desvendar que sensações haveriam provocado no coleccionador. Agora já desisti de o fazer, eles falam para nós, só no nosso tecido multi-cultural é que os podemos interpretar.

O reencontro com a obra de Paula de Rego de uma forma mais sólida ocorreu há umas semanas durante a tão esperada visita à sua Casa de Histórias em Cascais. O espaço e o alinhamento e disposição dos seus quadros foi extremamente bem conseguido. Pude ainda descobrir algumas fases da sua obra que desconhecia. Aconselho todos os que amam a arte livre a darem lá um saltinho.

Os quadros de Paula Rego revelam um grande poder de sentir. Não basta capturar o real. Eles transcendem-no. Tornam viva essa outra dimensão. A ilusão. A nudez. A crudelidade. A sedução. A denúncia. A inquietação. Percorrer uma pintura de Paula Rego significa ir mais além, sem medos de corromper o explicável. É uma resposta à indiferença do sentir.

Paula Rego 4701

(18/20)

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